terça-feira, 12 de abril de 2011

Xamanismo, Bruxaria, Magia - 4ª parte

  



Quando olhamos para o mundo a nossa volta notamos que ele tem um contexto, uma historicidade. Refiro-me ao mundo social, ao mundo tal qual vemos em nossas relações cotidianas. As pessoas em nossas vidas teceram eventos, conosco e em suas próprias esferas, que criam uma historicidade, um conjunto de fatores que nos ajuda a "localizar" pessoas e eventos na nossa percepção. É uma grande magia isso que fazemos, tecer eventos na vasta e emaranhada teia da existência e dar uma solução de continuidade a isso, criando o que chamamos de "realidade sensível".

É muito importante libertarmos nossa memória das falsas histórias e falseados mitos que nos impuseram. Tal liberdade não é atingida apenas pelo intelectual. Temos que usar MAGIA para podermos ir além, precisamos de ritos que reatualizem o mito que perdemos, nosso mito original, que foi oculto de nós pelo falso brilho da personalidade que em nós criaram. Não somos apenas o que fizeram de nós. Podemos ser quem faz algo com tudo o que herdou da realidade.

Somos entidades perceptivas, percebemos.

Aquilo que é percebido nos foi ensinado, a percepção em si não, mas a interpretação sim.

Temos o conceito de Pierce segundo o qual num primeiro instante temos a percepção plena do evento, sem o "enformamento" das palavras, do conceitual. Depois vamos conceituar, vamos significar. A secundidade, o momento no qual usamos os signos linguísticos para nos comunicarmos com nós mesmos, o diálogo interno que nos leva a compreender e sentir o mundo tal qual o fazemos, é também um limite.

Linguagem implica em código, algo que compara o que é sentido/percebido, com o conjunto de memórias já existentes. Assim os Caminhos profundos insistem, na memória, no já vivido, não há o novo, o novo só pode ser criado, na magia do instante presente.

Por isso a "iluminação", o "despertar", o "Satori" é sem palavras.

Na percepção primeira há só presença,

na percepção interpretativa, vamos usar palavras para designar, aludir, apontar para o que desejamos expressar.

O diálogo interno de uma época possui matizes comuns, bandas de variação mensuráveis , entre os membros da mesma nação. Mas o mundo que estamos destruiu sistematicamente formas várias de ser de várias nações, nações nativas aos montes foram cruelmente mortas, escravizadas, ainda hoje com pastores e pregadores diversos as religiões que servem aos conquistadores continuam escravizando os povos nativos, em corpo e alma. Temos esse condicionamento como herança, por isso é tão importante a quem vai trilhar o Caminho da MAGIA, do XAMANISMO ou da BRUXARIA ter sua jornada pessoal de poder, onde encontra consigo mesmo, com suas fraquezas e forças e descobre-se um ente perceptivo livre de qualquer condicionamento, de qualquer rótulo que lhe queiram dar.

Em todos os caminhos temos que ter a coragem de morrer para o velho para renascermos de nós, por nós e para nossa meta. Quando um certo momento chega a gente vai rir um pouco se continuar a usar termos como " magista" "xamã" ou bruxo (a)" , mas vai entender o que está além das palavras, coisas que só com brilho do olhar, tom de voz, vento presente, respiração sincrônica se pode transmitir de verdade, no mais, como fazemos aqui, é só aludir, só apontar para algo que nos toca vindo da ETERNIDADE. Algo que a civilização de escravos (as) foi levada a esquecer mas nós nos lembramos e buscamos agir com o que lembramos e aprendemos.

Assim, MAGIA, XAMANISMO, BRUXARIA são caminhos de liberdade, que nos auxiliam a recuperarmos a nós mesmos. São caminhos de LIBERDADE, caminhos onde o PODER é acessível, mas não somos "donos(as)" desse poder, apenas acessíveis a Ele. Dado interessante: foram caminhos perseguidos e ainda hoje desmerecidos e injuriados, por que o sistema que cria escravos teme tanto tais caminhos?

São caminhos onde a realidade é outra, vasta como uma cebola de incontáveis camadas e tudo que chamamos de realidade, está apenas numa dessas camadas. São caminhos que redespertam em nós nosso poder interior e o brilho de nossos olhos quando estamos de fato vivos e não sobreviventes, sempre incomodou entre os que pactuam com a morte para ter poder sobre os vivos. Dividir para governar tem sido a meta destes conquistadores. Os povos nativos vêm sendo destruídos porque realizaram alianças equivocadas, líderes inescrupulosos e manipuladores, sequiosos de poder momentâneo levaram seus povos a minar a força dos vastos impérios como o Andino. Já Impérios, já a praga comportamental que se abateu sobre a humanidade em ação, Impérios gerando ódios que iriam enfraquecê-los quando mais precisavam ser fortes. E o ocaso do Mundo Ancestral veio e a longa noite começou. Mas a noite segue seu curso e há algo de alvorada no ar...

Hoje a espécie humana tem seu estilo de diálogo interno mexido pelo fenômeno da interação entre culturas diversas, via meios de comunicação para as massas ou ainda pela NET. Portanto avaliar a MAGIA, o XAMANISMO e a BRUXARIA a partir de nossa época é delicado, pois ainda estamos recuperando a amplitude perceptiva necessária para realmente entender os profundos caminhos que se escondem atrás de tão incompreendidos rótulos. Estes caminhos são mensagens secretas que sobrevivem apesar de toda a perseguição, são caminhos, elos com outros povos e mundos que ao contrário do que a falsa história conta não foram destruídos ou sumiram, mas apenas mudaram de mundo, estando noutra camada da cebola, nos mandando sinais constantes.

Mas tais sinais são deturpados pelos conquistadores e histórias despropositadas substituem a real origem de tais sinais. Nossos ancestrais não foram destruídos, partiram e nos acenam de outras ilhas de realidade entre o vasto Mar da Consciência. Os carcereiros tentam iludir, não é nada, é Vênus brilhando, é um balão meteorológico, estais louco, vamos te dar remédios para que voltes ao "normal", estas e outras formas são meios efetivos de impedir que percebamos a realidade, os sinais estão sendo mandados. Ficamos aqui, nascemos aqui, neste mundo onde nossos ancestrais foram escravizados, ambos, tanto o conquistador como os conquistados eram escravos do mesmo sistema que usa os conquistadores para estender seus domínios onde ainda se é livre. E da fusão do conquistador com o conquistado surgimos nós, aqui, híbridos, cheios de potencial, mas em grande parte ignorando tudo isso.

O positivismo e outras escolas que se declararam únicos caminhos para a compreensão efetiva da realidade, são resultantes da ERA Industrial e de uma abordagem supersticiosa da realidade. As limitações da ciência positivista ainda não foram completamente superadas, nem tão pouco os paradigmas de religiões, ainda dominantes, que foram desenvolvidas em suas formas atuais pelas elites governantes dos conquistadores e agora querem ter sua própria historicidade, vil, mascarada, pois em realidade sempre foram instrumentos da conquista. Mas então cerraremos fileiras com os ateus, os agnósticos, os que em nada crêem? Iremos estar com os cínicos que descrentes de tudo negam a própria felicidade para apenas com sarcasmo aplaudir a destruição do mundo deixando que a indolência lhe encha de intelectualizados argumentos para não agir? Somos meros acidentes cósmicos de algo sem nenhum sentido? Que é crer para nós? Confiar cegamente num pai/mãe psicológico que sane nossas carências e oculte de nós o fato de nossa solitude frente a incomensurável Eternidade que nos envolve, nós, efêmeras criaturas?

Os (as) Xamãs, Bruxos (as) e Magistas de todas as eras que nos antecederam foram sempre homens e mulheres que souberam se ligar a outra linhagem de conhecimento, tão sistêmica como a ciência, ampla como a filosofia, mística e profundamente artística. Tinham uma abordagem da REALIDADE bem distinta, mas totalmente pragmática e efetiva, isto é, seu conhecimento se traduzia em ATOS de PODER não apenas elocubrações teóricas. Tal Arte / Ciência tinha no ser humano seu instrumento de prospecção e avaliação de outras realidades perceptivas. Em tais caminhos é o ser humano que se amplia e se desenvolve para investigar outros mundos. Não com naves pretendemos ir a outros mundos, não queremos minerar outros mundos, queremos aprender mais. Assim XAMÃS, BRUXOS (AS) e MAGISTAS vão a outros mundos pela força de seus conhecimentos.

Conhecimento que faz parte da herança ancestral presente num caminho pleno. Conhecimentos que em câmaras de torturas a Inquisição quis roubar-nos. Foi com o que escorreu pelo vão dos dedos, ao terem os capturados que apertar com força a substância viva do conhecimento na mão que os protegia, que se construiu esta civilização industrial, que explora e subjuga a Natureza, nossa Mãe de fato, não de crença. Esta civilização que aí está é fruto de um conjunto de atitudes tomadas por todas as pessoas que dela fazem parte. Assim temos vários grupos lutando por terem o poder de dizer às pessoas como dever sentir e pensar o mundo. Este estado de heteronímia existencial é estimulado e facilitado de formas as mais diversas, basta notar como é o mundo hoje.

Heterônomo, ausente de si mesmo, fora de eixo, suicida. Sim suicida, pois o que é uma civilização que armazena formas de se destruir? Este tipo de condicionamento gera bons servos ao sistema, mas os critérios cognitivos, os paradigmas da MAGIA, do XAMANISMO e da BRUXARIA são muito distantes desses hoje usados. Não que sejam inexistentes, são apenas caminhos cheios de caprichos que mais prendem que libertam, usarem da denominação, desses rótulos. Existem pseudo caminhos de magia, de xamanismo e de bruxaria. Mas estamos falando aqui de MAGIA, de XAMANISMO e de BRUXARIA e em tais caminhos a conquista da autonomia existencial é necessária, é fundamental, pois quem viaja por muitos mundos deve estar sempre pronto a lidar com as mais inesperadas situações e é sua habilidade de reagir com tranqüilidade e foco em qualquer situação que permite ao (à) magista, ao (à) xamã e ao (à) Bruxo (a) serem realmente a expressão do caminho que trilham. E só somos unos com o caminho quando o expressamos pela força de nossos atos. A força de nossos atos é medida pela realidade de nossas vidas, pelo estado de nosso corpo, pela força de nossa mente, pelas emoções que temos a habilidade de harmonizar até que surja o pleno sentimento em nós.

A BRUXARIA, a MAGIA e o XAMANISMO são caminhos de essência, toda vez que alguém trilha pela personalidade, pelos valores mesquinhos e ausentes de significação efetiva da personalidade, cria confusões, para si e para outros. Temos um mundo confuso aí, a nossa volta, porque foi gerado numa luta de personalidades em busca do poder sobre outros, sobre todos. Grupos querendo subjugar grupos, dominar, ao invés de interagir criativamente. Nessa guerra de dominação grupos foram muito além de seus próprios limites naturais e se impuseram como império global e pouco a pouco estamos assistindo as nações nativas serem destruídas enquanto fonte de energia sonhadora para o mundo. O mundo é sustentando pelo sonho dos povos, se padronizarmos demais os sonhos do mundo ele se desintegrará por excesso de emanações da mesma banda. De certa forma esta civilização parece que se matará de tédio. Não podemos mais deixar que as civilizações imperialistas dominem nosso sonhar, dominem nossas visões.

Somos herdeiros dos povos nativos, é hora de recuperarmos as antigas visões, é hora de vivermos dentro de nosso modo de vida. Garanto-lhes que é possível. Basta coragem e foco e o caminho se revelará. Este é um desafio. Qual é sua VISÃO? Vive de acordo com seu Coração? Sua mente é sua auxiliar em investigar o mundo ou uma tirana que lhe impõe uma visão pronta da realidade? A qualidade das respostas a estas perguntas revela muito sobre tuas chances de entender de fato o que abordamos aqui. Pois se a MAGIA, o XAMANISMO e a BRUXARIA tem algo a ensinar é para seres inteiros ou que buscam de fato se tornarem plenos.

Aí temos o nosso próximo tema. Existem dois níveis de MAGIA, de XAMANISMO e de BRUXARIA. Num nível são caminhos para nos reintegrarmos a realidade mais ampla da existência, para nos recuperarmos desse estado robótico e sonambúlico que fomos postos. Um caminho de reencontro, um "religare". Depois que "acordamos", que morremos e nascemos de novo a vida continua, há todo um novo desafio agora, lidar com o mundo sem ser dele, não ser mais escravo mas não ser tolo de colar isso na testa e virar alvo dos neo-inquisidores, muito mais sutis e aparelhados, que continuam em ação. Então tem a MAGIA, A BRUXARIA e o XAMANISMO que te ensinam, conhecimentos mais sutis e profundos. A maior parte do material que existe publicado fala da primeira fase do trabalho de contato com estes caminhos. Vamos mais fundo no próximo artigo.

Paz e Luz na Presença,

Nuvem que Passa
Extraído do Pistas do caminho

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