segunda-feira, 2 de junho de 2014

VÁRIAS FACES EM UMA ÚNICA FACE

"Todas as Deusas são uma única Deusa", múltiplas manifestações da Grande Mãe. Cultuar a Grande Deusa pode se manifestar no culto a um ou mais dos arquétipos que a representem nas diversas culturas do mundo. Assim, sejam as Lilith e a Shequinah judaicas, a babilônia Inanna, a havaiana Pele, a chinesa Kwan-In, a japonesa Amaterasu, a inca Ixchel, as africanas Yemanjá e Oyá, ou as hindus Sarasvati e Kali, sempre se estará prestando culto à mesma e única Deusa. As diferentes mitologias enumeram milhares de nomes de Deusas, correspondendo a aspectos ou atributos diversos. Assim, se escolhemos nos conectar com as Deusas Afrodite ou Ishtar ao procurarmos trabalhar a energia do amor, o fazemos porque essas formas do arquétipos, por disposição de milênios, mais se aproximam dessa energia. Se precisamos tratar de estudos ou escrita, criatividade nas artes, invocamos Atena ou Saravasti, por exemplo. Muitas bruxas costumam se conectar com Deusas de diferentes mitologias, conforme a necessidade de seus trabalhos.Outras se atém a um panteão determinado e só cultuam as Deusas e Deuses daquela cultura. Ambas as formas de expressão fazem parte dos Caminhos da Deusa. 


   
 Algumas bruxas preferem se conectar com as Deusas em sua forma mais primitiva, como Mãe Terra, daí utilizarem símbolos das chamadas Vênus pré-históricas, como de Laussel, Willendorf, Deusa serpente de Creta, Deusa do Nilo. Enumeramos a seguir uma breve lista de Deusas e dos assuntos que lhes são correlatos:
  • AMOR - Afrodite, Astarte, Ishtar, Beltis, Branwen, Freya, Hathor, Isis, Maia, Mari, Oxum, Vênus, Lilith;
  • DINHEIRO, TRABALHO E NEGÓCIOS - Demeter, Habondia, Cerridwen, Dannu, Gaia, Mãe do Milho, Bona Dea.
  • TRABALHO CRIATIVO, ARTES - Brigid, Cerridwen, Athena, Minemósine, as Musas, Saravasti.
  • CURA - Brigid, Ísis, Artemis, Hebe, Higéia.
  • LEI E JUSTIÇA - Atena, Maat, Nêmesis, Têmis, Aradia.
  • DEVOÇÃO, COMPAIXÃO - Kwan Yin, Maria. LAR, FAMÍLIA - Vesta, Hera, Concórdia, Rhea, Tara.
  • FILHOS - Eileithya, Carmenta, Juno.
  • PROTEÇÃO - Freya, Diana, Pallas Athena, Maeve
  • TRABALHO PSÍQUICO - Cibele, Hécate, Cerridwen, Neftis, Perséfone, Hel, Ísis.

A Deusa e o Deus – seus aspectos

 Nem sempre houve domínio do princípio masculino sobre o feminino como exposto acima, quando falamos um pouco do patriarcado. Houve um tempo em que harmonia entre os dois princípios. Lemúria é exemplo disso. As sociedades celtas também.   Um dos principais principios da Bruxaria é a Harmonia tanto consigo mesmo quanto com a Natureza e o Cosmo.            Trabalhamos com energias tanto masculinas quanto femininas, mesmo sendo uma Religião Matrifocal, a Deusa e seu Consorte vivem em ampla Harmonia. Cultuar a Deusa hoje significa reconsagrar o Sagrado Feminino, curando, assim, a Terra e a essência humana. Quer sejamos homens ou mulheres, sabemos que nossa psique contém aspectos masculinos e femininos. Aceitar e respeitar a Deusa como polaridade complementar do Deus é o primeiro passo para a cura de nossa fragmentação dualística interior. A Deusa é cultuada como Mãe Terra, representando a plenitude da Terra, sua sacralidade. Sobre a Terra existimos e, ao fazê-lo, estamos pisando o corpo dela, aqui e agora, muito diferente da crença em um deus Omnipotente e distante, que vive nos céus.. A Deusa é a Terra que pisamos, nossos irmãos animais e plantas, a água que bebemos, o ar que respiramos, o fogo do centro dos vulcões, os rios, as cores do arco-íris, o meu corpo, o seu corpo... A Deusa está em todas as coisas... Ela é Aquela que Canta na Natureza... O Deus Cornífero seu consorte, segue sua música e é Aquele que Dança a Vida... Cultuar a Deusa não significa substituir o Deus ou rejeitá-lo. Ambos, Deus e Deusa são da mesma moeda, as duas faces do Todo. A Deusa é a criadora primordial, o Deus o primeiro criado, e sua dança conjunta e eterna, em espiral, representa a eterna dança da vida.




O Tríplice Poder

O tríplice poder ou Deusa Tríplice mostra os mistérios mais profundos da energia feminina, o poder da menstruação na mulher, bem como a contraparte feminina presente em todos os homens e tão reprimida pela cultura patriarcal.
A Deusa possui três aspectos:
  
Donzela
A donzela é representada pela lua crescente, é o aspecto jovem da Deusa. Põe à mostra nosso lado independente, irreverente, sendo a virgem, mas não virgem no sentido sexual como usado atualmente, pois o conceito de virgindade para os antigos era a mulher que ainda não havia contraído matrimônio.
É a dona do amor livre ou puramente sexual, a nossa parte criativa e descomprometida, a inocência de nossa personalidade, plena de alegria de viver, sendo associada com a Primavera, onde celebramos  Ostara.
Podemos das vários nomes a essa face da Deusa. No Panteão Greco-Romano, ela é representada por Ártemis e Diana. Dentro do círculo dos mitos que compõem a saga arthuriana é Ninniane, também chamada Nímue, Perséfone e Proserpina, cujo nome significa Donzela. Nos mitos celtas, é conhecida por Rhianon, donzela saída do inframundo que tem relação com  Perséfone.
A Deusa de face tríplice  se mostra muito além das fases da Lua ou dos diversos arquétipos da Deusa.  Ela é parte de nós e parte do mundo em que vivemos. Somos e habitamos no Corpo da Deusa.
As cores associadas à Donzela são o rosa e o branco. As Flores são principalmente silvestres e os animais que a simbolisam são os cervos. Devemos invocar esse aspecto da Deusa quando queremos renovar algo ou adquirir o novo.



Mãe
A imagem de Mãe como eterna doadora de vida foi uma das primeiras representações religiosas que se tem notícias. Antes que os deuses patriarcais posteriores, a deusa era reverenciada em seus aspectos de criadora.
Em estudos sobre as religiões comparadas nos tráz a amplitude e extenção de seu culto, é a face da Deusa que é mais conhecida e reverênciada, por ser a deusa doadora da vida.
Tudo provinha da terra essa que por sí só vicejava. Para os homens da pré-história era muito intrigante o fato de como as mulheres podiam dar a luz.
Encotramos nas escavações realizadas em cavernas como Lascaux, por exemplo, pinturas rupestres de mulheres grávidas, entalhes em paredes, simbolizando a vulva. Símbolo também descoberto esculpido sob tumbas, como para prometer o renascimento a partir do corpo divino.
São igualmente afirmações do Sagrado Feminino, as estátuas de mulheres nuas com seios abundantes segurando serpentes, as configurações de mulheres sempre com os contornos acentuados, simbolizando a fertilidade.
Existem numerosos exemplos deste aspecto da Deusa:
Deméter entre os gregos é encarregada da fertilidade da terra e das colheitas. Esta intimamente relacionada à Perséfone ou Prosérpina, um aspecto da Donzela Gaia, anterior até a própria mitologia Grega e que representa a Terra. Foi ela quem deu a Luz aos Titãs.
Curiosamente hoje em dia se dá o nome à terra de Gaia novamente.
Ísis para os Egípcios, chamada também a Grande Mãe Criadora e Doadora da vida, e também associada à Lua.
Badb na Irlanda, a Mãe da Divindade, junto a Anu e Macha, possuía um caldeirão Mágico como símbolo do ventre sagrado. Era também conhecida por acertar em suas profecias.
Freya na mitologia nórdica, considerada a líder de Disir, as Matriarcas divinas. Intimamente está  ligada a magia e um de seus atributos é a  habilidade de voar.
Em algumas das imagens mitológicas habituais a visão da Mãe criadora se une a da destruidora, isso acontece pelo referencial de que a Mãe Natureza consegue ser ampla em suas faces.
Às vezes é difícil diferenciar essas faces, mesmo sendo distintas elas se entrelaçam, como uma imagem única de uma deusa única. A Mãe é associada à Lua Cheia, sendo a deusa das colheitas, velando pela fertilidade tanto das mulheres quanto a dos animais e de toda Natureza em geral.
 A principal festa na Roda do Ano em que celebramos a Deusa Mãe é o Imbolc. A cor é o roxo, e os animais associados à Deusa Mãe são o Gato, a  Pomba e o Golfinho. Devemos invocar esse aspecto da Deusa quando queremos algo relativo a maternidade, proteção, casamento adquirir paz interior, desenvolvimento espiritual, intuição e dons psíquicos.

A Anciã
A Donzela nos fala do começo, a Mãe da maturidade e a Anciã nos faz pensar no final. Este é um dos aspectos mais difíceis de entendermos, ou melhor, de aceitarmos dentre as Faces da deusa Tríplice. Essa face que nos leva inevitavelmente a contemplarmos a Morte e a nossa Sombra.
A Anciã foi reverenciada nas antigas culturas como regente do Inframundo, visto,  nessa época, como um lugar de descanso das almas entre as encarnações, antes de voltar ao plano terrestre.
As associações posteriores que se deram em nome do inframundo, pelas religiões de revelações, como Cristãos e Judeus, mostram esse inframundo como inferno associando essa Deusa ao Demônio e ao Mal, por eles também inventado.
Morrer é como nascer, algo inevitável.
Para uma vida cíclica, tudo na natureza é assim.  Porque seriamos, nós, Humanos diferentes? As sementes precisam morrer para germinar, os animais mais velhos morrem para dar lugar aos seus filhotes, as chuvas em tempestades arrasam cidades, mas essa mesma chuva faz a terra germinar.
Essa face Bem e Mal, se mostra mais visivelmente na face da Anciã.
A função desta face da Deusa é nos preparar para um renascimento muito mais do que para a morte em si.
Para a bruxaria em geral, seja qual for a Tradição, usar este aspecto da deusa é uma das coisas mais difíceis, por simplesmente ser muito difícil para cada um de nós lidarmos com a nossa Sombra. Muitos vêem  a Anciã como a lua Minguante, mas, a Anciã também pode ser vista como sendo a lua nova. É o momento para olharmos para dentro de nós e descobrirmos nosso lado Negro, e sabermos lidar com ele, não o renegando, mas o acolhendo e entendendo e aprendendo a usa-lo para nosso próprio bem.
Como em todas as faces existem muitos nomes para a Deusa Anciã:
Hécate para os Gregos, chamada na Idade Média como a Rainha das Bruxas, era uma deidade do Inframundo e da Lua.
Hel é a deusa Germânica do Inframundo, à ela todos retornavam após a vida fisica ter acabado.
Morrigan, deusa do Mortos como era conhecida na Bretanha, Gales e Irlanda, era quem também regia as batalhas.Tinha o aspecto Tríplice em si mesma também sendo chamada de Três Morrigans.
Nephthys para os Egípcios, esposa de Seth e regente de Inframundo, Mãe de Anúbis, deus da cabeça de Chacal que Guia os Espíritos em sua viagem até o Mundo dos Mortos.
A Lua nova como face Deusa teria como suas cores: o preto, azul profundo e violeta mais escuro. A estação no ano é o inverno e seus animais são o lobo o corvo e o burro.
O festival correspondente é claro o Samhain o festival dos Mortos. Devemos invocar este aspecto da Deusa quando precisamos lidar com relacionamentos que estão acabando, menopausa, descanso e calma para depois adentrarmos em novos projetos, proteção tanto para o corpo físico quanto para a alma, comunicação com os espíritos guia.

O Deus – seu atributo

Não somente como o Sol, o Deus esta representação em muitas faces na Natureza, principalmente na sua face indomável que exemplifica a fase do homem como caçador-coletor, representado por um ser com aspecto humano, porém com chifres, chifres esses de Alce, mostrando ainda um animal selvagem.
Conforme o Homem foi "domesticando" a Terra e os animais, esse Deus passou a ser representado por corpo Humano, mas com chifres de bode, um animal dócil e domesticável. Mesmo tendo chifres de Bode ainda mantinha em seu ser a força do Deus selvagem dos chifres de Alce, como atesta a natureza do Deus Pã.
Como a Deusa, o Deus também tem muitas faces e muitos nomes. Cornunos, vindo da palavra em latin Cornus, descreve bem a face deste Deus selvagem em que acreditavam os Celtas.
 Dionísio também tem chifres e representa a virilidade. Em algumas ocasiões, seus chifres são de bode, outras de touro. Essa imagem de touro como as representações em que Dionísio aparece com serpentes tem ligações com os ritos lunares da Antiga Europa. Sabemos que em algumas tradições Dionísio era consorte de Ártemis, confirmando a natureza silvestre.
Ao chegar a Itália o culto a Dionísio foi adaptado à vida da nova terra, sendo esse Deus associado aos vinhedos. Na Itália, o Deus Conífero recebeu o nome Baco e muitas vezes também se apresentava com uma coroa de folhas de Uva, e em sua cabeça surgiam seus chifres.
Outra face do Deus é a do Senhor da Colheita - Green Man. Aqui encontramos mais uma vez a figura de Dinísio, sendo o único Deus não indo-Europeu da Antiga Europa. Aqui ele aparece como o Senhor da Colheita, tendo uma imagem mais madura, como as sementes depois que o sol brilhante e fervoroso as fez germinar.  Instiga o verdejar da terra após o frio inverno.
As estrelas são pequenos sóis distantes, também associadas ao Deus, como os desertos escaldantes, e as altas montanhas.
Os Símbolos normalmente utilizados para representar ou cultuar o Deus incluem a espada, chifres, a lança, a vela, a flecha , bastão mágico, o tridente, o punhal, faca ou Athame.
 As cores são o dourado, marrom, azul, verde e amarelo.
O principal Sabath ligado ao Deus é o Yule que marca o nascimento da Crinaça Azul da Promessa. Em Ostara, o Deus se torna um jovem que esta alcançando sua maturidade.

O Deus Rebelado

 Segundo historiadores, a passagem para o patriarcado deu-se em várias esferas. Na velha Europa, a sociedade que cultuava a Deusa foi vítima do ataque de poderosos guerreiros orientais - os kurgans. O Cálice foi derrubado pelo poder da Espada. Outro fator decisivo para tal transformação foi o crescimento da população, que levou as sociedades arcaicas à "domesticação da terra". Os homens tinham que dominar a natureza, para obrigá-la a produzir o que queriam. Com a descoberta de que o sêmen do homem é que fecunda a mulher (acreditava-se que esta gerasse filhos sozinha), estabeleceu-se o culto ao falo, sendo este difundido pela Europa, Egito, Grécia e Ásia, atingindo o seu ápice na Índia. Com o advento do monoteísmo, e patriarcado - e a conseqüente dominação da mulher - o culto ao falo estabeleceu-se em definitivo. "O monoteísmo não é apenas uma religião, é uma relação de poder. A crença numa única divindade cria uma hierarquia - de um Deus acima dos outros, do mais forte sobre o mais fraco, do crente sobre o não-crente”.

Jeová, Deus dos Hebreus, em cujos mandamentos assentam-se as raízes da nossa civilização judaico-cristã - é o melhor exemplo do Deus patriarcal. Ele é um Deus guerreiro, que esmaga os inimigos do seu povo eleito com toda a sua força poderosa, esperando em troca fidelidade e obediência aos seus mandamentos. Ele trabalha com o medo. O mito de Lilith mostra bem essa passagem do matriarcado para o patriarcado. Recusando-se a submeter-se à Adão, tentava igualdade com ele. "Por que devo deitar-me sob ti?" - ela questiona, e é punida por Jeová, que envia um anjo para expulsá-la do Paraíso. Blasfemando e criando asas, numa demonstração de liberdade, Lilith abandona o Paraíso e voa para o Mar Vermelho, onde dá início a uma dinastia de demônios. Mas Adão fica, e sente-se só. Jeová então cria Eva, a mulher, condenada eternamente à inferioridade. Como enunciava Santo Agostinho, a mulher não era a imagem de Deus - apenas o homem era. Ela era, no máximo, a imagem de uma costela. Embora a personagem do Deus cristão seja bem mais suave do que seu antecessor - o Deus de Jesus é piedoso e compreensivo, enquanto Jeová distribui medo e castigos, na opinião de muitos a totalidade feminina encontra-se cindida na mitologia cristã: maternidade e sexualidade. A Virgem e Maria Madalena. Nos Evangelhos Apócrifos, Madalena é tida como líder ativa no discipulado de Cristo. O Evangelho de Felipe relata a união do homem e da mulher como símbolo de cura e paz, e estende-se ao relacionamento de Cristo e Madalena, a companheira do Salvador.

Contrapondo-se à figura de Madalena, a Virgem está associada apenas ao lado maternal do feminino, estático e protetor. Sempre retratada através da Virgem, de Madalena, Hera, Ísis, Deméter, Atena, Diana, a Lua, a Natureza, Hécate, Afrodite, Lilith e tantas outras, a figura da Deusa vem ressurgindo, cada vez mais e com mais força.

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