Existem alguns assuntos polêmicos na bruxaria hoje. Existem questões de tradição sendo discutidas, questões da validade de certos caminhos.
Parece que é interessante antes de discutirmos se tal caminho é ou não da tradição perceber a qualidade de nossos conceitos de "caminho", "tradição". O que é um "caminho"?
Por que, para que existe? Como sabemos que um caminho é um caminho e não mais uma ilusão conceitual, mais um aglomerado de pessoas gerando uma realidade convencionada, que tem a textura de realidade, mas que tem o poder da força coletiva do grupo apenas? Isso é bem sutil.
Tem grupamentos que tem sua força, considerável, mas esta é resultante da força total do grupo. Há outros grupamentos de humanos que carregam consigo uma carga extra, uma força que vem de outro tempo, de outra era, que é de natureza diversa de tudo que existe nesta era e neste mundo. É importante meditar sobre isso, procurar ir além do mero raciocinar aqui.
A descrição de mundo na qual este conhecimento se baseia é outra, assim estamos falando de outro tipo de física, de química, assim esta energia diferente que certos grupos carregam pode ser muito sutil, mas é ainda "matéria", é ainda energia organizada em forma de exist"encia, que é diferente da energia na inexistência.
Alguns a chamam de Baraka, o poder da transmissão, que mestre (a) passa para discípulo (a) desde o ínicio dos tempos. Entre os Xamãs este poder é transmitido a cada sucessor e muitos grupos de xamãs, ainda existentes no nosso mundo, podem estar morando na casa ao lado que nem saberíamos, pois são discretos e nem de longe tem a idéia de "ensinar" seu saber no conceito que temos de ensinar. Eles apenas vêm às vezes ao mundo, caçar humanos em potencial, ensiná-los a transcender a condição humana e depois solta-los na corrente da vida.
Assim, a Corrente continua e é isso que as linhagens tem como objetivo, que a "corrente" não se parta. Mas diz um texto alquímico, que quando partimos em busca da Verdade, num movimento sincero e concreto, a Verdade também se lança em nossa busca.
Essa busca sincera da VERDADE que liberta, que nos permite encontrar o espaço silencioso onde vamos partilhar da PRESENÇA, sem nenhuma programação exterior. E existe uma energia original, que vem de antes do alvorecer dessa Era, uma energia fina, tecida com fios de luz das estrelas, que viajaram pelo tempo até chegar a nossos olhos, onde nos tocam de forma sutil, a qual não percebemos por não termos sido sensibilizados (as) a isso.
Mas podemos redescobrir essas sutilezas observando tudo isso, através dos tempos homens e mulheres aprimoraram um saber cumulativo sobre como lidar com essa imensidão que nos envolve, que tem armadilhas, perigos, maravilhas e coisas terríveis e só na plenitude de nós mesmos podemos viajar incólumes pela absoluta solidão da vasta Eternidade que nos envolve.
E MAGIA, XAMANISMO, BRUXARIA têm sido termos que aludem a estes caminhos, caminhos de reencontro com nossa real natureza, caminhos de despertar, caminhos de singularização de nossa realidade existencial, para que nos tornemos realmente existentes enquanto agentes ativos, sujeitos reais de nossa história e não objetos que repetem uma programação que lhes foi imposta por mecanismos ideológicos sutis, cuja maior parte nem percebemos.
Quando saímos do sonos robótico vamos descobrir a vastidão na qual estamos inseridos e temos de estar preparados para isso. Ajudar nesse despertar, canalizar para que o choque do despertar não atrapalhe a caminhada, alertar sobre os perigos e armadilhas que estão em outros mundos que nos cercam, tudo isso têm nas tradições guardiãs e transmissoras .
As energias de antes da origem fluem por um caminho da tradição , como um rio, é comum ouvirmos esse termo para se referir as mesmas: o rio espiritual do caminho.
Um caminho da TRADIÇÃO no mais lato sentido do termo é um caminho que tem essa energia em sua transmissão. Isto não invalida caminhos que não tenham essa força. Pois a meta da MAGIA da BRUXARIA, do XAMANISMO está além do humano, está além dos véus e assim a intervenção humana é um detalhe que pode ou não acontecer.
Estar ligado (a) a uma linhagem de tradição é ter a chance de ser aconselhado (a) por homens e mulheres que vão lhe ajudar a evitar armadilhas, mas sem inibir suas habilidades. Uma falsa tradição vai ter pessoas querendo impor seus pontos de vista, querendo moldar os (as) aprendizes a suas concepções pessoais, a sua forma de ser e estar no mundo. Numa tradição profunda os mais velhos e as mais velhas vão lhe ajudar como um (a) jardineiro (a) ajuda a planta a desabrochar e revelar sua interior identidade.
Uma organização formal acaba reprimindo o pleno talento de seus jovens pela ação competitiva dos mais velhos, que temem ser superados, como de fato tem que ser, pois é a missão de cada geração superar a anterior.
O desafio é sermos nós os superadores em nosso momento, indo além das barreiras que chamam de realidade, mas que têm sido a cerca onde nos mantêm perceptivamente confinados, aguardando a tosquia e alguns o abate.
Encontrar um caminho tradicional, que tem essa energia fluindo é uma grande sorte. Eu chamo de sorte, podem chamar de "desígnios do poder", "vontade da Deusa", ou seja lá o que for, mas o fato é que importa. Efetivamente algo lá fora , em um certo momento, interfere e muda tudo, nos coloca numa condição diferente de existência e isto é a maior iniciação possível.
A iniciação formal a uma tradição é algo que pode nos auxiliar no navegar da vastidão da Eternidade que nos espera quando vamos além dos véus perceptivos que nos impuseram. Mas o chamado pode vir diretamente da ETERNIDADE e a mais improvável das pessoas pode se tornar um bruxo, uma bruxa, um xamã, uma xamã, um magista, uma magista.
Por isso me divirto quando vejo pessoas arrogantemente se sentido superiores e desdenhando de desafetos julgando que este ou esta pessoa não vai nunca ser um(a) bruxo(a) , xamã ou magista. Quem somos nós para entender os desígnios do poder? Conheci pessoas com muito talento, com poder incrível e que por arrogância e preguiça se tornaram nulidades para si mesmas e outras que pareciam frágeis, que tinham pouca energia pessoal e no entanto com determinação e vontade fizeram do pouco muito e são hoje plenas em seus caminhos.
Me parece que a humildade fundamental que tanto se fala nesses caminhos não é uma subserviência tola, mas reconhecer que somos nada, que somos menos que pó cósmico, inseridos num planeta que gira ao redor de um sol cuja massa sequer é suficiente para que ele vire um buraco negro quando terminar seu ciclo, na periferia de mais uma das incontáveis galáxias que vagam pela eternidade. As forças que passam por nosso mundo podem nos levar, como um surfista numa onda, ou nos afogar. Depende de nossas habilidades grande parte do resultado final dessas opções.
MAGIA, XAMANISMO, BRUXARIA são caminhos para desenvolver nossas habilidades a fim de que "surfemos" as ondas que chegam e não sejamos afogados por elas. É aqui então que reconhecemos a realidade de um caminho tradicional. Se este caminho nos permite despertar, nos auxilia a sair da auto-ilusão na qual nos mantemos, repetindo a programação que nos foi incutida, temos um caminho efetivo.
SE ao contrário apenas está preso a formalismos, ritualismos, a conhecimentos teóricos e nenhuma atividade efetiva que nos torne mais estratégicos em nosso ser e estar no mundo, então podemos estar num pseudo caminho, que pode nos prender ainda mais, nos entorpecer ainda mais nessa viciada interpretação oficial da realidade. Sensibilidade é nosso termômetro, perceber os resultados concretos, não os anunciados.
Pois MAGIA, BRUXARIA e XAMANISMO são caminhos de ação, não de racionalismos. É pelo ato que ritualizamos, que reatualizamos o poder.
Só com atos podemos curar o ser terra e ajudar a terra a saltar para o próximo nível de consciência.
Nuvem que passa
28 - 8 - 2001 as 12:53:33
Extraído do Pistas do caminho
Extraído do Pistas do caminho
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