"O cérebro humano opera evidentemente de
acordo
com alguma variação do princípio enunciado em
The Hunting of the Snark: " O que
eu te disser
três vez é verdade" é verdade".
Norbert Wiener, Cybernetics
A
ideia mais importante do Livro da Magia Sagrada de
Abra-Melin o Mago é a fórmula
aparamente simples "Invocar muitas vezes."
Na
Teoria do Comportamento, de Pavlov, Skinner, Wolpe. etc., a forma mais
conseguida de tratamento para as chamadas doenças mentais pode muito bem ser
resumida em três palavras semelhante: "Reforçar muitas." (Para todos os efeitos
práticos, "reforçar" significa aqui o mesmo que o termo do leigo "recompensar")
A essência da Teoria do Comportamento é recompensar o comportamento; a medida
que se sucedem as recompensas, o comportamento desejado começa ocorrer com cada
vez maior frequência, "como por magia."
Como
todos sabem, a publicidade baseia-se no axioma "Repetir muitas vezes."
Aqueles
que se consideram "materialistas," e que julgam que o que o "materialismo" lhes
exige a negação de todos os factos não conformes com a sua definição de
"matéria", sentem-se naturalmente relutantes em admitir a lista extensa e bem
documentada de indivíduos que foram curados de doenças graves por essa forma de
magick tão vulgar e absurda conhecida por ciência cristã. Não existe nenhuma
diferença essencial entre a magick a Terapia do Comportamento, a publicidade e
a ciência crista. Todas elas podem ser condensadas na fórmula simples de
Abra-Melin, "Invocar muitas vezes."
A
realidade é termo-plástica e não termo-estável. Ela não totalmente disparatada,
corno o senhor Paul Krassner certa vez
afirmou, mas
encontra-se omito mais perto disso do que
geralmente supomos
Se nos disserem vezes suficientes que "Budweiser a rainha das cervejas,” a
Budweiser acabará por saber um nadinha melhor e talvez mesmo multo melhor do
que antes desse encantamento ter sido lançado. Se um terapeuta do comportamento
a soldo dos comunistas o recompensar de cada vez que você repetir um slogan
comunista. você começará a repeti-lo mais veres, passando a aproximar-se do
mesmo tipo de crenças que os cientistas
cristãos usam para os seus mantras. E se um
cientista cristão repetir para si próprio todos os dias que a sua úlcera lá
desaparecer, ela desaparecerá mais rapidamente do que sucederia se ele nunca se
tivesse enjeitado a esta campanha caseira
de publicidade.
Finalmente, se um mágico evocar vezes suficiente o Grande Deus Pã, o Grande Deus
Pã acabará por surgir, do mesmo modo como o comportamento heterossexual a surgir
em homossexuais que estejam a ser tratados (alguns diriam maltratados) através
da terapia do comportamento.
O
oposto e recíproco de "Invocar muitas vezes" é "Banir muitas vezes"
O
mágico que deseje uma manifestação de Pã não apenas invocará Pã directa e
verbalmente, como também criará ambientes de Pã no seu tempo, reforçando as
associações com Pã em todos os seus gestor, e usando peças de mobiliário, cores
e perfumes associados com Pã, etc.; mas também banirá verbalmente todos os
outros deuses, através da remoço das mobílias, cores
e perfumes associados com eles. e banindo-os também de todos
os outros modos possíveis. O terapeuta do comportamento chama a este
procedimento de "reforço negativa" e, ao tratar um doente
com, a fobia dos elevadores, não apenas reforçará (recompensará) todas as
situações era que o paciente andar de elevador sem evidenciar terror, como
também reforçará negativamente (castigará) todas as indicações de terror
evidenciadas pelo doente. Evidentemente, o cientista cristã usa rnantras ou
encantamentos que, simultaneamente, reforçam a saúde e reforçam negativamente
(afastam) a doença. Dum modo semelhante, um anuncio publicitário não apenas
motiva o consumidor para o produto do patrocinante, como desencoraja também o
interesse por todos os “falsos deuses,” reduzindo-os à desprezada e desprezível
Marca X.
O
hipnotismo, o debate e inúmeros outros jogos apresentam todos o mesmo
mecanismo: Invocar muitas vezes eBanir
muitas vezes.
O leitor que estiver interessado em alcançar uma
compreensão mais profunda desta questão poderá consegui-la aplicando na prática
estes princípios. Faça esta experiência muito simples. Durante quarenta dias e
quarenta noites, comece cada dia invocando e glorificando o mundo como se ele
fosse uma expressão das divindades egípcias. Recite de madrugada:
Abençoo Ra, o brilhante e quente sol
Abençoo Isis-Luna na noite
Abençoo o ar, o falcão de Hórus
Abençoo esta terra em que caminho
Repita
ao nascer da Lua. Prossiga durante os quarenta dias e quarenta noites.
Garantimos sem quaisquer reservas que, no mínimo, o leitor se sentirá mais
contente e mais em casa neste canto da galáxia (e compreenderá também melhor a
atitude dos índios americanos para com o nosso planeta); no máximo, obterá
recompensas muito para além das suas expectativas, convertendo-se ao uso deste
mantra para o resto da sua vida. (Se os resultados forem excepcionalmente bons,
poderá mesmo começar a acreditar nas antigas divindades egípcias.)
Uma
selecção de técnicas mágycas incapazes de ofender a razão de qualquer
materialista pode ser encontrada emYou Are Not the
Target (que poderoso mantra é este título!) de Laura
Archera Huxley, Gestalt
Therapy de Perls, Hefferline e Goodman,
e Mind Games de Masters e
Houston.
Evidentemente,
tudo isto se resume à programação da nossa própria realidade através da
manipulação de aglomerados apropriados de palavras, sons, imagens e energia
emocional (prajna). Mas a faceta da magick que
mais desconcerta, espanta e escandaliza a mentalidade moderna
é aquela em
que, agindo á distância, o
operador programa a realidade de outra pessoa. Para este tipo de mentalidade, a
afirmação de que seria possível programar uma dor de cabeça para o presidente
dos Estados Unidos pareceria incrível e insultuosa. Pessoas assim poderiam
aceder em que essa manipulação de energia fosse possível caso o presidente
estivesse informado dos nossos propósitos, mas nunca aceitariam que o feitiço
funcionasse também se o seu receptor não se encontrasse consciente da
maldição.
Sendo
assim, o materialista afirmará então que todos os casos em que, nestas
condições, a magia parece resultar, não passam de ilusões, enganos, alucinações,
“coincidências,” má compreensão, "sorte," acidente ou pura fraude.
Ao
tomar esta atitude, o materialista não parece compreender que ela equivale a
afirmar que, afinal, a realidade é mesmo termo-plástica - pois está a admitir
que muitas pessoas vivem em realidades diferentes da sua. Mas em vez de o
deixarmos debatendo-se com esta auto-contradição, sugerimo-lhe que
consulte Psychic Discoveries Behind the
Iron Curtain, de Óstrander e
Schroeder - e especialmente o capítulo 11, "Dos Animais à
Cibernética: A Procura duma Teoria da Psi." Poderá então perceber que, quando a
matéria acabar por ser totalmente compreendida, não existe nada que um
materialista precise de rejeitar na acção
mágica á distância, que
está a ser amplamente explorada por cientistas afectos à rígida causa do
materialismo dialéctico.
Aqueles
que têm mantido vivas as antigas tradições da magick, como a Ordo Templi
Orientalis, compreenderão que o segredo essencial é sexual, e que podemos
encontrar mais luz nos escritos do Dr. Wilhelm Reich do que nas actuais
pesquisas soviéticas. Mas o Dr. Reich foi encarcerado como tolinho pelo governo
americano e não nos passaria pela cabeça pedir aos nossos leitores que
considerem a hipótese do governo americano alguma vez se haver enganado.
Qualquer
psicólogo adivinhará imediatamente os significados simbólicos mais prováveis da
Rosa e da Cruz; mas nenhum psicólogo dedicado à pesquisa psi parece ter alguma
vez aplicado esta chave na decifração dos textos mágicos tradicionais. A mais
antiga referência à franco-maçonaria em inglês surge em "Muses Threnody” de
Anderson, 1638:
Porque nós somos irmãos da Cruz Rosada
Nós temos a Palavra Maçónica e a segunda visão (1)
mas
nenhum parapsicólogo seguiu ainda a pista evidente contida nesta conjunção da
rosa vaginal, a cruz fálica, a palavra da invocação e o fenómeno da projecção do
pensamento. Parte desta cegueira pode ser explicada pelos tabus contra a
sexualidade que ainda se encontram latentes na nossa sociedade; sendo a outra
parte o medo de abrir a porta ás formas de paranóia mais insidiosas e
subtis. (Se a magick pode
funcionar à distância, diz
o pensamento reprimido, qual de nós se encontra
seguro?) Um estudo profundo e objectivo da histeria
anti-LSD na América iluminará melhor os mecanismos de evitamento aqui
discutidos.
O
racionalista descobrirá evidentemente ainda outras ofensas e afrontas no estudo
mais aprofundado da magick. Todos sabemos, por exemplo, que as palavras não
passam de convenções arbitrárias sem nenhuma ligação intrínseca com as coisas
que simbolizam. No entanto, a magick utiliza as palavras de tal modo que parece
implicar a existência de alguma conexão, ou mesmo identidade, deste tipo. Se o
leitor se encontrar disposto a analisar alguns exertos de linguagem geralmente
não considerados como mágicos, poderá conseguir descobrir parte da resposta. Por
exemplo, o padrão 2 + 3 do “lo Pan! lo Pan Pan!” de Crowley não difere muito do
2 +3 de “Santa Maria, Mãe de Deus.” Assim, quando um mágico nos diz que. no
momento mais intensamente emocional da
evocação, devemos gritar “Abracadabra” e
nenhuma outra palavra, ele está a exagerar; poderíamos utilizar outras
palavras; mas faremos abortar os resultados se nos afastarmos muito do ritmo
pentatónico de “Abracadabra.”
O
que nos trás de volta à teoria mágica da realidade.
Escreve
o Mahatma Guru Sri Paramahansa Shivaji em Ioga para
Tolinhos:
Consideremos
um pedaço de queijo. Dizemos que ele tem certas qualidades, como forma,
estrutura, cor, solidez, sabor, cheiro, consistência e outras mais; mas a
investigação demonstrou que elas são todas ilusórias. Onde se encontram então
estas qualidades? Não no queijo, pois observadores diferentes farão descrições
delas muito diferentes. Em nós também não, pois não as sentimos na ausência do
queijo.
Que
qualidades serão então essas sobre as quais nos sentimos tão certos? Elas não
existiriam sem os nossos cérebros; não existiriam sem o queijo. São o
resultado da união, isto é, do Ioga, daquilo que vê e daqui-lo que é visto, do
sujeito e do objecto...
Um
físico moderno não encontraria aqui motivo para discórdia; e esta é a teoria
mágica do universo. O mágico assume que a realidade
sentida - o conjunto de impressões filtradas pelos
sentidos e processadas pelo cérebro - é radicalmente diferente da chamada
“realidade objectiva.” Como disse William Blake, “O louco não vê a mesma árvore
que o sábio vê.” Sobre a realidade supostamente “objectiva” pouco mais podemos
fazer do que especular ou elaborar teorias que, se formos muito cuidadosos e
subtis, não contradirão nem a lógica nem os relatos dos sentidos. Esta falta de
contradição é a lógica; existem sempre algumas divergências entre a teoria e a
lógica, ou entre a teoria e os dados dos sentidos. Por vezes passam-se séculos
sem essas divergências serem descobertas (por exemplo, o afastamento de Mercúrio
em relação ao cálculo newtoniano da sua órbita). E, mesmo quando é alcançada,
esta falta de contradição prova apenas que a
teoria não é totalmente
falsa. Em caso algum prova que a teoria
é totalmente verdadeira - pois,
a partir dos dados disponíveis em determinada altura é possível construir um
número indefinido de teorias. Por exemplo, as teorias de Euclides, de Gauss e
Riemann, de Lobachevski e de Fuller
resultam todasrazoavelmente bem na superfície da
Terra. Quanto ao espaço interestelar, não se tem ainda a certeza se o sistema
que resulta melhor é o de Gauss-Riemann ou o de Fuller.
Ora,
se dispomos assim de tanta liberdade para escolher as nossas teorias sobre a
“realidade objectiva,” seremos ainda mais livres no aspecto da decifração
da realidade sentida. A pessoa
média vê como foi ensinada a ver - isto é, como foi programada pela sociedade. O
mágico é um auto-programador. Usando a invocação e a evocação - que, como
mostramos acima, são funcionalmente idênticas ao auto-condicionamento, à
auto-sugestão e à hipnose - ele selecciona ou orquestra, como um artista, a
realidade sentida. (É evidente que, inconscientemente, todos procedemos assim;
ver o parágrafo sobre o queijo. O mágico, agindo conscientemente, controla esse
processo.)
______
Nota:
(1)
N. do T. - No original, “For we be brethren of the Rosey
Cross / We have the Mason Word and second
sight."
Bibliografia:
Robert Anton Wilson,
O Livro dos Illuminati.
Editora Via Óptima, Porto, 1º
edição, Dezembro de 1985.
Extraído
do Morte Súbita
"Não há pessoa no mundo q saiba ou q
possa compreender o q já fiz em minha vida. E não há pessoa no planeta q possa
fazer como eu fiz. (Gilles de Rais)"
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